Obrigado, Cristina
Aqui no blog, já agradeci ao 25 de abril e à cidade de Lisboa. Hoje é dia de agradecer a Cristina Ferreira.
Ela, mais uma vez, e contra variadíssimos riscos, ousou, colocando na sua capa dois casais do mesmo sexo. Feito o teste, uma capa de um beijo sensual entre sexos opostos não choca, mas do mesmo sim. E porquê?
Porque a homossexualidade continua, por algum motivo, a ser diferente, um desvio à norma, uma aberração, uma calamidade, um prenúncio do fim dos tempos. Só que não é nada disso. É apenas amar pessoas mais parecidas.
Aparece dessa forma na cabeça das pessoas porque, a dada altura, um neurónio foi contaminado com a junção do conceito de mau ao de homossexualidade. Até aqui tudo ok, a minha mãe também me ensinou assim. Mas, quando me confrontei com isto, necessitei de questionar o neurónio infetado, algo que, uns anos depois, levou a uma aceitação da minha paneleirice crónica.
Quando partilhei parte do meu percurso, fi-lo porque sabia que alguém ia precisar de ler. O agressor, o homem que ainda não o consegue dizer em voz alta, o rapaz que está quase a contar aos amigos, a mãe que lamenta não ter sido capaz de apoiar de imediato o filho, e a mãe que quer falar de bullying com os filhos. Não tive nenhuma reação negativa, e apenas me senti mais forte para continuar a ser eu próprio.
A Cristina Ferreira vai chegar àquelas pessoas onde a minha história, e outras antes de mim, não chegaram. A todos os públicos e a todas as mesas. Alguns dos tais neurónios vão ver o conteúdo questionado, e reagirão mal. É certo que o tabu, onde o é, deixará de ser e voltaremos a falar das coisas como são e que outrora foram às escuras. Só assim se procura saber mais, e só com mais informação se cura o país e o mundo. Por isso lhe agradeço, por nos fazer dar outro passo na direção certa. É preciso tomates.